Beiras e Moçambique a quatro mãos na cozinha do Zambeze
A dois passos do Castelo de São Jorge há um restaurante que reúne, sobretudo, o receituário das Beiras e os intensos sabores de Moçambique, para desfrutar com os olhos postos sobre Lisboa.
As faianças de Bordallo Pinheiro combinam-se entre si na decoração da sala do Zambeze, que cruza a tradição das gastronomias beirã e moçambicana à mesa, graças a João Paulo Varela, chef beirão que há 14 anos se rendeu à cozinha, e do sub-chef moçambicano Alexandre Golaze, cozinheiro de profissão desde 1982 que, desde 2012, tomam conta da cozinha do restaurante que, nos dias soalheiros, convida a preguiçar na esplanada, para saborear ou petiscar um repasto leve e ainda mais descontraído, ou optar pela sala rasgada por uma varanda com vista para o casario lisboeta, o Castelo de São Jorge, o Tejo, a ponte, a outra margem.
Porque há boas novas na carta do restaurante e a nova aposta enfatiza o risotto, apesar dos pratos de caril e o o camarão à Laurentina – temperado com a emblemática cerveja moçambicana – preencherem a lista de preferências, o repasto quer-se, desta vez, na sala, a envidraçada, para que o sol seja desfrutado com moderação.
Nas entradas adivinha-se um pouco de tudo o que de tão bom se pode fazer com a cozinha portuguesa, desde os choquinhos à Bulhão Pato aos apetitosos ovos mexidos com farinheira e grelos, sabores de inverno que se complementam com à trilogia de bons sabores composta por queijo de Nisa com mel, maçã e canela ou os cogumelos Portobello recheados com queijo de cabra e bacon.
Mas não sem antes abrir o apetite com o couvert do chef composto por chamuça (especialidade de origem indiana muito apreciada em Moçambique e não só), peixe em molho escabeche, cogumelos recheados com queijo creme, presunto e queijo da Casa da Ínsua. Sobre o pão, a variedade dificulta a escolha, assim como o sabor, desde o de azeite com especiarias, o de azeitona, o pão tigre, o de sementes, a broa de milho.
Mergulhemos no desfile de pratos de peixe e marisco, onde o cruzamento entre as cozinhas beirã e moçambicana são o prato forte – e fazem “crescer água na boca”. Desde os pratos de bacalhau ao peixe na grelha – robalo, dourada, garoupa e linguado – ao saboroso e bem recheado risotto de caranguejo e camarão em caril e mui recomendável caril de caranguejo, sem passar o camarão com quiabos e leite de coco ou o camarão tigre à Moçambicana, entre outros pratos – 20, no total.
De Baco, a companhia coube ao Casa da Ínsua branco 2015, um vinho da região do Dão feito a partir das castas Encruzado, Malvasia-Fina e Semillon.
A escolha do prato de carne reflete, de novo, indecisão quando se está perante uma lista de 14, a maioria com sabores provenientes, acima de tudo, das Beiras, pelas mãos do chef João Paulo Varela, como o cabritinho da serra na grelha servido no ponto, o arroz de cabrito com castanhas, a vitelinha de leite com batata loira e juliana de legumes ou a posta de Lafões com batata na grelha. Por sua vez, Alexandre Golaze apresenta o chacuti de pato, legado da cozinha goesa em Moçambique e que é feito, tradicionalmente, com frango, cabrito ou carne bovina; o frango em amendoim ou à zambeziana.
Entre os pratos de carne, há um que desafia a curiosidade, o tornedó de vitela, pois há que eleger três dos cinco sabores ora Portugal – com esparregado, migas de alheira, pimentos assados, batata a murro e batata frita – ora de Moçambique, com mucapata (mistura feita a partir de feijão siroco e camarão), matapa (com camarão e folha de mandioca), xima (feita com farinha de milho ou de mapira, que também é um cereal), arroz de coco e chutney de manga – e todos são servidos em pratos aquecidos e servidos com a simpatia que se exige num restaurante, neste caso composto por uma equipa oriunda das beiras e de Moçambique.
Na harmonização esteve um Casa da Ínsua tinto 2012 – o ano da abertura do Zambeze – feito a partir das castas Touriga Nacional, Alfrocheiro e Tinta Roriz, o qual se junta a uma mão cheia de vinhos de produção nacional numa carta onde se encontram também duas cervejas de Moçambique, a Laurentina e a 2M.
Para o fim fica o buffet de doces sabores de um país que ainda faz parte da memória de muitos portugueses, com o bolo de mandioca, o bebinca ou os gulabos com coco ralado, com o intuito de mostrar a genuinidade da cozinha moçambicana, a par com a doçaria deste nosso país, com o pão de ló de Ovar, os pudins, o folhados com doce de ovos, entre outras iguarias dispostas numa mesa, para eleger o que mais apetece no final do repasto.
Ao domingo, o almoço é um buffet com dois pratos portugueses e dois moçambicanos e servido entre as 12.30 e as 15 horas; nos outros dias, a experiência gastronómica está na carta que une Portugal e Moçambique, com recomendação de reserva através do 218 877 056 ou zambezerestaurante@montebelohotels.com.
Agora, sim, já está aberta a época da esplanada, onde os cocktails e as bebidas exóticas se traduzem no mood do momento, desta feita na Calçada Marquês de Tancos, mercado Chão do Loureiro, bem perto do largo do Caldas, em Lisboa. Bom apetite!
Fonte: Mutante